Escolha seu risco
por David duChemin – traduzido com permissão do autor por Elis W. Alves
Este post foi escrito por um dos meus fotógrafos favoritos que considero também como um dos meus maiores mentores. Ele tem vários livros escritos tanto em formato normal quanto eletrônico. Especialmente este aqui me ajudou MUITO a desenvolver meu olhar para a fotografia.
Mas não é por causa da fotografia que resolvi traduzir e publicar este post (o original em inglês está aqui). Como ele mesmo diz, é um post sobre a vida. E para viver precisamos nos arriscar. O resto, deixo com David que é (muito) melhor escritor do que eu.
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Às vezes eu gosto de cruzar uma linha divisória neste blog. O que acaba deixando as coisas mais para o gênero motivacional, gênero o qual geralmente não me interessa. Então, só pra avisar – este post não é sobre fotografia, mas sobre a vida (e qual é o foco da fotografia senão a vida?).
Ano passado eu decidi mudar a minha vida. Há dois meses comprei um jipe, vendi minhas coisas, entreguei minha casa e meu endereço fixo e saí para uma aventura. Meu plano era passar o resto do ano de 2011 viajando pela América do Norte, pelo menos quando não estivesse fotografando ou ensinando em algum outro lugar do mundo.
Comecei a viagem e as coisas começaram a mudar. Comecei a gostar cada vez mais deste estilo de vida. Senti menos falta de ter uma casa do que esperava. Gastei mais tempo com as pessoas do que pensava. Me vi aceitando o ritmo de vida nômade e comecei a sonhar mais alto e permitir um pouco mais de flexibilidade a mim mesmo.
Aí meu amigo Zack Arias organizou um evento em seu estúdio em Atlanta, e aquela noite foi mágica pra mim. Conheci pessoas incríveis, incluindo Zack – ao vivo e á cores pela primeira vez. E, se você não conhece o Zack, ele é o tipo do cara que tem uma opinião para tudo. Uma dessas opiniões era de que eu deveria falar ao grupo, só “uma coisa que empolgasse” ou algo parecido. Me recusei. Ele insistiu e disse “quando a cerveja acabar você fala!” Pensei então que faria minha cerveja durar o resto da noite e não teria que falar nada, até que ele explicou que a cerveja que estava falando era a sua, não a minha. E eu tive a nítida sensação de que ele não demoraria para acabar.
Sem saber o que dizer, contei a história dos últimos meses e a crescente sensação da brevidade da vida que havia me trazido até ali. E quanto mais eu falava (uma mistura meio incoerente de mensagem espontânea e sermão) mais algo dentro de mim se expandia, uma sensação de que eu tinha passado de um ponto ao qual jamais retornaria. Já escrevi antes que a vida é curta, mas ao invés de uma idéia passageira ela tem se tornado cada vez mais a base das minhas mais importantes decisões. Mais do que nunca me comovo com a brevidade da vida e a consciência de que a realização dos nossos sonhos e anseios não acontecem acidentalmente. A vida é complicada, eu sei, e às vezes parece acontecer conosco ao invés de a fazemos acontecer, mas as pessoas conseguem viver vidas extraordinárias porque superam as circunstâncias e escolhem fazer aquilo que sonham.
Entretanto muitas pessoas não dão ouvidos aos seus sonhos.
Bem, talvez até ouçam, mas permitem que sejam afogados pelo desejo de entulhar suas casas de coisas, ou o desejo de segurança ou – o mais provável de tudo – porque dão ouvidos a seus medos.
A cultura em que vivemos prefere assistir grandes histórias nas telas de cinema ao invés de vivê-las. Por quê? Eu acho que é medo de arriscar. Quanto maior o risco, maior o potencial da recompensa, mas também maior o potencial para gritarmos “Meu Deus, vamos todos morrer!” ou algo do tipo. Para muitos de nós, o medo é a voz que fala mais alto.
Medo da rejeição nos leva a comprar coisas desnecessárias e cala nossa voz quando deveríamos dizer ao outro em alto e bom som “Eu te amo.”
Medo do desconhecido nos mantém perto de casa.
Medo do medo nos mantém em terapia.
Por isso, preferimos assistir ‘Coração Valente’ e nos imaginar corajosos do que correr o risco e descobrir se realmente somos. Faz sentido. Afinal, ‘Coração Valente’ tem uma morte horrível no final. Mas mesmo que nos emocionemos com William Wallace dizendo: “Todos os homens morrem, mas nem todos realmente vivem”, afogamos suas palavras com refrigerante e pipoca e vamos dormir. Essa mesma frase, ou o sentimento que ela provoca, me mostra duas coisas, e estas duas coisas tornam mais fácil para mim rejeitar a voz do medo.
1. Tudo o que temos é o presente. Já disse isso antes: nenhum de nós vive para sempre. O tempo de mudarmos é agora. Pode ser que você não possa empacotar todas as suas coisas agora e sair para uma aventura, mas pode se preparar para ela. Não espere até que tenha 65 anos de idade e esteja aposentado. Você pode não estar vivo ou bem de saúde. A hora é agora. Não seja aquele que ao dar seu último suspiro se arrepende por não ter feito o mais importante. Viva com todo o entusiamo e energia que tem agora. O presente é tudo que você tem. Cada momento conta.
2. Arriscar é inevitável. Todos nós nos arrriscamos, todos os dias. Você se apaixona por alguém maravilhoso à primeira vista e tem duas escolhas, ambas envolvem risco. Você pode agir e arriscar ser rejeitado, ou pode ficar na sua, não fazer nada e arriscar perder o que poderia ser a melhor coisa da sua vida. Claro, a rejeição dói (mas não é guarantida), mas não é nada se comparada ao arrependimento permanente por ter deixado a pessoa escapar (absolutamente guarantido). Você tem um sonho e a única maneira de alcançá-lo é fazendo algumas mudanças: viva com menos e ensine seus filhos em casa ao invés da escola por um ano. Você pode fazê-lo, e arriscar a falência (não tão provável quanto parece) ou continuar seguro e deixar seus sonhos permanecerem somente sonhos (absolutamente guarantido). Viver é arriscar-se. As melhores histórias dependem disto. Mas mesmo estes riscos não são tão grandes quanto parecem. É engraçado como nós muitas vezes preferimos ouvir nossos medos e evitar riscos que são apenas possivelmente dolorosos. E ao fazê-lo sacrificamos nossos sonhos – uma perda que é certamente dolorosa.
Pode ser que a última coisa que você queira ouvir seja outro sermão. Eu entendo. Nenhuma destas coisas é fácil. Tive momentos em que fiquei nervoso e senti um medo esmagador enquanto me preparava para desistir da chamada ‘vida normal’. Me custou algumas decisões dolorosas e correções de rumo ao longo dos anos para que eu chegasse até aqui. Caí e me reergui. Um dia pode ser que minha diabetes me impeça de me aventurar assim. Mais uma razão para respirar fundo e fazê-lo agora. Eu tinha planejado voltar para Vancouver no final deste ano – que era a decisão mais “sensata”. Em vez disso estou procurando saber mais do que preciso para voltar a Europa e viver como nômade por um ano: passar um tempo nas ilhas britânicas e Escandinávia antes de pegar o barco para a Islândia e depois dirigir até Istambul ou Marrakech ou Ulaan Batar.
Tudo isto para dizer: não se acomode. Seus sonhos são diferentes dos meus, mas o arrependimento por não tê-los vivido será o mesmo. A vida é curta. Escolha o seu risco intencionalmente, não tente evitá-lo. Viva uma história épica, não se contente apenas em assisti-la. O que quer que tenha vindo á sua mente quando escrevi o primeiro post da categoria ‘A vida é curta’, espero que você já esteja se mexendo para alcançá-lo. Porque realizar seus sonhos é parte do que significa viver a vida ao máximo.